Por Thiago Ermano Jorge *

Aprender com o mundo, tropicalizar pesquisas e tecnologias e construir soberania agroindustrial é o melhor caminho.

O Brasil já mostrou ao mundo do que é capaz: transformou café, cana, soja e proteína animal em potências globais.

Agora, a nova fronteira chama-se Cânhamo Industrial, variedade não psicoativa de Cannabis sativa spp. com aplicações em fibra, grão, óleo, biomateriais, cama animal, nutrição e carbono.

A janela regulatória se abre, o mercado global cresce e investidores já investem e observam. A questão estratégica é simples: vamos importar o futuro ou construir o nosso?

Por que aprender com o mercado internacional não basta, é preciso tropicalizar

Mais de 110 países já cultivam Cânhamo Industrial. Eles nos oferecem dados de mecanização, colheita, fibras técnicas e certificações,  como faz o Uruguai e a Argentina.

Mas clonar modelos temperados não funciona em clima tropical úmido, Cerrado ácido, solos arenosos do Matopiba ou rotinas de dupla safra. Precisamos tropicalizar!

Adaptar densidade de plantio, janela de fotoperíodo, manejo de pragas, secagem e teores de canabinoides às nossas condições agroclimáticas.

Convocamos os agrônomos!

Conheça a realidade e oportunidades que o CTICANN, a ABICANN, cooperados e parceiros internacionais estão aproximando de quem quer pesquisar, cultivar, industrializar e comercializar produtos vindos deste cultivar milenar, que retorna à cadeia produtiva brasileira e global:

– Transferência de conhecimento + genética local = vantagem competitiva

– Quem dominar a genética adaptada ao Brasil terá condição para comandar o futuro desta cadeia produtiva nacional, nascente.

– Linhagens diferenciadas para fibra longa, grão oleaginoso, alto teor de celulose ou acúmulo rápido de biomassa podem atender nichos industriais distintos, além de novas fórmulas biológicas e técnicas de melhorias agrícolas e industriais registradas.

– Atingir esse cenário exige programas de melhoramento com bancos de germoplasma legais, intercâmbio técnico internacional e cruzamentos controlados em redes regionais de pesquisa.

O caminho está aberto: áreas de teste multiestação acontecendo + fenotipagem digital em estudo + análises laboratoriais sendo coordenadas pelos pesquisadores e lideranças conectadas com nossa rede. Já é possível participar.

Dependência tecnológica custa caro e limita a soberania

Nosso histórico em agro mostra que quando dependemos de sementes, química e maquinário estrangeiros, sem contrapartida local, perdemos margem, autonomia estratégica e capacidade de exportar soluções de alto valor agregado.

Repetir esse erro no Cânhamo seria abdicar de um mercado nascente avaliado em R$190 bilhões/ano (~US$30 bilhões) no cenário integrado por estudos realizados pela ABICANN e validado pelo mercado internacional.

Tecnologia nacional não é bandeira ideológica; é política industrial inteligente.

CTICANN + universidades: como aterrissar inovação no campo

Modelos-piloto recentes já demonstraram que é possível iniciar com áreas de 5 a 20 hectares em fazendas-escola ligadas às universidades regionais ou via entidades que promovam a inovação.

Com apoio institucional da ABICANN e com suporte técnico do CTICANN, é realidade:

– Delineamento experimental por zona agroclimática.

– Testes de cultivares internacionais + seleções locais.

– Avaliação de fibra, óleo, proteína e biomassa em laboratório credenciado.

– Protocolos regulatórios alinhados às normas da ANVISA, MAPA e AGU.

Essa abordagem reduz risco para produtores e cria dados sólidos para políticas estaduais.

O agro e a indústria de transformação entram juntos

O Cânhamo só escala se campo + indústria caminharem acoplados. Produtores precisam de contratos de compra; indústrias precisam de matéria-prima uniforme.

Veja onde cada pode ganhar espaço comercial:

No campo: rotação com soja/milho/algodão, recuperação de solo, renda adicional.

Na pecuária: torta proteica, cama vegetal de alta absorção, suplementos funcionais.

Na indústria: fibras para têxteis técnicos e compósitos, biomassa para painéis, óleo alimentar, ingredientes funcionais e bioenergia.

Parcerias nas Américas: ponte para genética e melhoramentos, maquinário e mercados

A ABICANN articula cooperação técnica com redes públicas e privadas em vários países das Américas (Norte a Sul), facilitando:

– Intercâmbio regulatório (o que funciona, o que trava).

– Transferência controlada com licença de germoplasma e testes de adaptação.

– Benchmark de maquinário de plantio, colheita e decorticação.

– Rotas de exportação de ingredientes e subprodutos industriais.

Produtores brasileiros podem entrar nessa rede via programas de cooperação e missões técnicas.

Chamado estratégico

O Cânhamo Industrial é um excelente agregador e não compete com o agro brasileiro, ele amplia, regenera e diversifica.

O produtor que plantar conhecimento hoje colherá tecnologia, margem e mercados amanhã.

A indústria que se aproximar agora do setor liderará exportações de alto valor agregado. E o Brasil, que deve investir em genética e processamento próprios, deixará de ser dependente para tornar-se referência. É o que propomos.

Acesse os estudos para mais detalhes:

Relatório Técnico – Cânhamo Industrial (CTICANN):

https://cticann.org/cticann-apresenta-relatorio-inedito-sobre-pesquisa-e-inovacao-com-canhamo/

Análise Sistemática Global – Cannabis (CTICANN):

https://cticann.org/cticann-lanca-analise-global-inedita-sobre-a-producao-cientifica-da-cannabis

* Thiago Ermano Jorge é Pesquisador Interdisciplinar, diretor-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis e Cânhamo (ABICANN) e diretor do Centro de Tecnologia e Inovação da Cannabis (CTICANN). Atua na integração entre políticas públicas, ciências, tecnologias e bioeconomia, com foco em Cannabis Medicinal e Cânhamo Industrial.