Por Thiago Ermano Jorge *

A recente atribuição do Prêmio Nobel de Economia a Philippe Aghion reacende uma discussão fundamental para o Brasil: como transformar ciência, tecnologia e inovação em motores reais de crescimento? Aghion defende que é preciso premiar o risco, não a inércia. Ou seja, favorecer aqueles que ousam explorar o novo, ainda que com incertezas, em vez de reforçar o conforto da estabilidade.

Essa mensagem ecoa com especial intensidade para quem atua no ecossistema da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial, nas fronteiras da bioeconomia nacional. Vivemos em um país que historicamente subestima o risco inovador. Instituições regulatórias excessivamente rígidas, cultura de aversão ao erro e políticas públicas voltadas para projetos “seguros” acabam por penalizar quem tenta algo disruptivo.

No entanto, o avanço científico e tecnológico depende justamente da experimentação. Muitos caminhos falham antes do acerto, mas sem essas tentativas não há salto. O modelo econômico que Aghion propõe reforça que o crescimento sustentável decorre da destruição criativa, a substituição de tecnologias ultrapassadas por soluções mais eficientes e inovadoras.

No universo da Cannabis e do Cânhamo, essa lógica é ainda mais urgente. Estamos diante de oportunidades genuínas de gerar materiais sustentáveis, cosméticos inovadores, compostos medicinais e soluções agropecuárias de precisão. Contudo, esses campos frequentemente esbarram em barreiras regulatórias, insegurança jurídica e ausência de fomento que aceite o risco.

Precisamos de um ecossistema em que quem investe em P&D e propõe ideias radicais encontre respaldo institucional, não punitivo, e suporte para crescer. É aqui que o CTICANN pode atuar com protagonismo: liderando chamadas de apoio a projetos de risco elevado, articulando fundos e parcerias público-privadas, promovendo redes de mentoria especializada e incentivando uma cultura que não demonize o fracasso, mas aprenda com ele.

Necessitamos de editais adaptados ao setor, que não exijam certezas artificiais, mas sim metas de aprendizado e experimentação, conforme o Sandbox Regulatório solicitado pela ABICANN à ANVISA em 2024. Também é fundamental manter uma interlocução eficiente com as agências reguladoras, reduzindo o arrasto burocrático e tornando os caminhos mais previsíveis para o inovador — como temos feito desde 2017, apoiando associações empresariais e sociais em todo o país.

Se o Brasil quiser se posicionar como protagonista da bioeconomia global, não basta acompanhar, é preciso ousar! A resposta à mensagem de Aghion está na prática. Que possamos construir um ambiente onde empreendedores científicos se sintam encorajados a testar, errar, aprender e evoluir, tendo apoio real, e não com punição velada. Nesse cenário, a economia verde, os bioprodutos do Cânhamo e as tecnologias emergentes deixarão de ser promessas para se tornarem realizações concretas.

Que este momento não seja apenas simbólico. Ao premiarmos o risco, estaremos também apostando no futuro de um Brasil que inova e transforma, e não naqueles que preferem repetir o que já existe.

Sobre o CTICANN: O Centro de Tecnologia e Inovação da Cannabis é uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento que promove ciência, tecnologia e inovação com foco em Cannabis Medicinal, Cânhamo Industrial, e Biotecnologias, integrando instituições acadêmicas, setor produtivo e órgãos governamentais. O CTICANN mantém unidades em diversas regiões do Brasil e das Américas, disponibilizando infraestrutura de P&D, inteligência regulatória, laboratórios e parcerias com centros de excelência internacionais para apoiar o produtor rural em todas as etapas: da escolha da semente ao escoamento da produção.

Mais informações sobre oportunidades e parcerias podem ser obtidas pelo e-mail: portal@abicann.org

* Thiago Ermano Jorge é Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis e Cânhamo (ABICANN) e Diretor e Pesquisador Interdisciplinar do Centro de Tecnologia e Inovação da Cannabis (CTICANN), com vínculo ao Instituto Brasileiro de Ciências Psicoativas (IBCPA). Atua na integração entre ciência, tecnologia e bioeconomia, com foco em Cannabis Medicinal e Cânhamo Industrial.

Acesse nossos estudos para mais detalhes:

📘 Relatório Técnico Global sobre Pesquisa e Inovação com o Cânhamo Industrial (CTICANN)
🌍 Análise Sistemática Global sobre Produção Científica da Cannabis (CTICANN)