Por Thiago Ermano Jorge *

Raramente nasce um PIX. Essa inovação brasileira, que se tornou referência mundial ao transformar a forma como nos relacionamos com o dinheiro e com o tempo, é a prova de que o Estado pode – em raríssimos momentos – entregar soluções que mudam a vida de milhões de pessoas. No entanto, o PIX é exceção, não regra.

O Estado, por natureza, é burocrático e lento, e sua vocação não está em inovar, mas em regular e administrar. Ainda assim, deveria assumir um papel muito mais estratégico: criar condições para que inovadores floresçam, apoiar ecossistemas criativos e sustentar a base científica e tecnológica capaz de melhorar a vida da sociedade e do mundo.

Já, se olharmos para as universidades, percebemos uma realidade paradoxal. Elas são fortes na ciência, mas frágeis na inovação. Segundo dados do INPI, o Brasil registra em torno de 30 mil pedidos de patentes por ano, e uma parte expressiva vem das instituições de ensino superior.

Mas o que realmente é registrado? Essencialmente invenções acadêmicas que, muitas vezes, ficam restritas ao papel ou ao depósito, sem conexão direta com a sociedade e sem maturidade para se transformar em negócios ou tecnologias aplicadas.

O resultado é um número significativo de patentes que não chegam a gerar impacto econômico ou social relevante. O que as universidades ganham é prestígio científico e ranking internacional; o que perdem é a chance de se consolidar como protagonistas da transformação tecnológica e produtiva.

Já o setor privado respira inovação. Ele precisa dela como instrumento primordial de sobrevivência. É nesse ambiente competitivo que nasce a energia estimulante capaz de diferenciar, aperfeiçoar e criar soluções que dão sentido à vida das pessoas. Entretanto, se olharmos para as estatísticas, veremos que o setor privado brasileiro ainda patenteia pouco em comparação com países líderes em inovação.

A explicação está na falta de apoio público e acadêmico para registrar, proteger e explorar adequadamente essas invenções. Empresas e empreendedores muitas vezes inovam sob demanda ou por necessidade, mas sem acesso a cadeias estruturadas de suporte, com pesquisadores, instituições e investidores dispostos a sustentar por décadas a evolução dessas soluções.

É nesse ponto que entra a missão do CTICANN – Centro de Tecnologia e Inovação da Cannabis, que atua justamente na interseção entre ciência, empresas e sociedade. Nosso papel é criar pontes entre universidades públicas e privadas, integrando P&D de ponta ao setor produtivo e às demandas sociais. Produzimos tecnologias que não nascem para os próximos cinco anos, mas para os próximos 80 anos, olhando para o futuro da bioeconomia, da saúde, da agricultura e da sustentabilidade.

No campo da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial, trabalhamos para que a inovação brasileira não seja um lampejo isolado como o PIX, mas um processo contínuo, estruturado e globalmente relevante.

Quem realmente produz inovação, portanto, não é o Estado isoladamente, nem a universidade sozinha, tampouco a empresa desarticulada. A inovação surge quando essas forças se conectam, mas sua energia vital está no setor privado, que transforma ciência em impacto real. Cabe às universidades fortalecer essa ponte com qualidade de patentes e maturidade tecnológica, e ao Estado, garantir condições justas e ágeis para que esse ciclo não se perca. Só assim o Brasil poderá transformar seu potencial em realidade e ocupar o espaço que lhe cabe no cenário global da inovação.

Acesse nossos estudos, para mais detalhes:

Relatório Técnico – Cânhamo Industrial (CTICANN):

https://cticann.org/cticann-apresenta-relatorio-inedito-sobre-pesquisa-e-inovacao-com-canhamo/

Análise Sistemática Global – Cannabis (CTICANN):

https://cticann.org/cticann-lanca-analise-global-inedita-sobre-a-producao-cientifica-da-cannabis

* Thiago Ermano Jorge é Pesquisador Interdisciplinar, diretor-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis e Cânhamo (ABICANN) e diretor do Centro de Tecnologia e Inovação da Cannabis (CTICANN). Atua na integração entre políticas públicas, ciências, tecnologias e bioeconomia, com foco em Cannabis Medicinal e Cânhamo Industrial.